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Foto do escritorPedro Cabral

ABSTRAÇÕES, ESTADO, MERCADO, TORPOR

Atualizado: 13 de abr. de 2020

Em 18 do mês de março passado, publiquei artigo no site do Instituto Liberal, do Rio de Janeiro, intitulado “O Estado forte não pode nos salvar; ou: Ciao Juliana” em que critiquei a visão exposta pela Professora Juliana Diniz em seu artigo, publicado no dia14 do mesmo mês, no Jornal O’Povo, intitulado A Mão Invisível não Pode nos Salvar, no qual a ilustre professora assevera:


“O coronavírus ensina que, numa economia de mercado, sujeita à influência flutuante de fatores absolutamente imprevisíveis, não se pode abrir mão da existência de um Estado forte que atue não apenas na regulação da livre movimentação dos agentes econômicos, mas que possa funcionar como efetivo garantidor do bem-estar geral em contextos de crise”.


No meu texto, eu faço o contraponto a essa ideia apontando fatos que mostram que os Estados fortes da Europa simplesmente não souberam responder à crise pandêmica e que foi a partir do Estado Chinês, Estado muito mais que forte, totalitário, que a doença se expandiu para o resto do mundo.


No entanto, apesar de tangenciar a questão, eu perdi a oportunidade de pontuar algo que reputo de grande importância e que tem sido negligenciado no debate público sobre questões muito graves e que têm impacto direto na vida das pessoas, o que seja, o fato de que abstrações como “Estado” e “Mercado” não agem concretamente; tais abstrações não são agentes, não atuam de fato na realidade sensível, no mundo fenomênico.


Essa afirmação parece um truísmo e é uma obviedade mesmo, mas urge que seja proclamada, pois o número de pessoas que simplesmente ignoram esse fato, já há tempos, toma foros de verdadeiro surto psicótico coletivo!


Então, sejamos objetivos, fixemos as seguintes premissas:


  1. Estado é instituição, não pessoa concreta, por meio do qual, pessoas agem - políticos e burocratas. Falar em “ação do estado” é usar de metonímia, é usar de figura de linguagem, pois em verdade é falar em um conjunto de “ações concretas de determinados seres humanos”.

  2. Mercado é ambiente onde as pessoas atuam diretamente ou por meio de instituições, inclusive, do Estado. O mercado não regula, não protege, não soluciona etc. São as pessoas que nele regulam, protegem, solucionam etc.


Sendo assim, contrapor a “ação do estado” à “ação do mercado”, como se fossem entes concretos não é só um erro grosseiro, é verdadeira alienação, é abrir mão de um mínimo de racionalidade, se aquele que profere o discurso não apresenta, nem que seja em ato ilocucionário, as ressalvas devidas por quem, lucidamente, faz uso da linguagem figurada.

E essa alienação generalizada não é só um pormenor semântico, essa deficiência cognitiva, na prática, interdita a discussão objetiva e inteligente sobre os assuntos que envolvem questões de cunho particular e público, questões que têm repercussões na vida privada e da coletividade.


Tristemente, tanto à direita, quanto à esquerda, campeia a alucinação que a linguagem traduz, a fé e o ódio direcionados a moinhos de vento como se fossem dragões cuspidores de fogo, para entrar na onda das figuras de linguagem. E o pior é que o analfabetismo fenomênico é tão grave, que as pessoas sequer conseguem entender o que você fala quando acusa esse estado de torpor cognitivo. Elas acham sempre que você está num movimento, ou de defesa, ou de ataque, ou do “estado”, ou do “mercado”. Não conseguem conceber algo fora disso.


Ficam, portanto, o registro e o lamento.

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